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Fui assaltado e transferiram todo meu dinheiro, o que eu faço?

Dúvida Jurídica

  • Pergunta: Fui assaltado e os criminosos usaram minha senha do aplicativo bancário para fazer vários PIX, esvaziando minha conta. Pedi ressarcimento ao banco, mas foi negado. Consigo recuperar o valor? Quais são as chances de ganhar um processo? Quais os riscos e como são as decisões judiciais?

Quando você é vítima de um crime onde é forçado a revelar suas senhas bancárias, a situação se torna muito delicada. A crescente incidência de fraudes e roubos envolvendo transações bancárias eletrônicas, especialmente via PIX, tem gerado grandes debates jurídicos sobre a responsabilidade dos bancos e a proteção ao consumidor. Segundo o Código de Defesa do Consumidor (CDC), os bancos têm a obrigação de garantir a segurança das operações realizadas por seus clientes. Isso significa que, em situações onde o cliente é forçado a revelar sua senha sob ameaça, o banco pode ser responsabilizado pela falha em proteger o consumidor.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem proferido decisões que reconhecem a responsabilidade das instituições financeiras em casos de fraudes, especialmente quando a vítima prova que não colaborou voluntariamente com a transação. O banco, ao recusar o ressarcimento, está assumindo que não houve falha de segurança da parte dele, mas essa alegação pode ser contestada, principalmente se a fraude foi imediata após o roubo. A interpretação da legislação é no sentido de proteger o consumidor em situações onde ele claramente foi vítima de um crime.

Contudo, a questão não é tão simples, e o sucesso de um processo dependerá de vários fatores, incluindo a apresentação de provas contundentes de que você foi forçado a fornecer a senha. Além disso, o cenário atual demonstra que as decisões judiciais variam, com algumas instâncias dando ganho de causa ao consumidor e outras considerando a responsabilidade do usuário ao não proteger suas credenciais.

  • Provas do Roubo e Coação: É essencial que você tenha boletim de ocorrência documentando o assalto e descrevendo a coerção sofrida. Testemunhos, imagens de câmeras de segurança e outras provas também ajudam a solidificar seu caso.
  • Detalhamento das Transações: Levante todos os registros das transações feitas pelos criminosos, incluindo datas, horários e valores. Isso será útil para demonstrar que as operações não condizem com o padrão de uso regular da conta.
  • Comunicação com o Banco: Registre todas as tentativas de contato e as respostas recebidas do banco, incluindo a negativa de ressarcimento. Esse histórico pode ser relevante para mostrar a postura da instituição financeira.
pix e caso de assalto como recuperar o valor
  • Ação Judicial Contra o Banco: Considerando as provas disponíveis, a medida mais eficaz pode ser a abertura de um processo judicial contra o banco. Um advogado especializado pode alegar a responsabilidade objetiva do banco, argumentando que ele falhou em garantir a segurança das transações.
  • Provas de Coação: Fortaleça o caso reunindo provas robustas da coerção, como testemunhas e boletim de ocorrência. Isso ajudará a convencer o juiz de que você não teve controle sobre as transações realizadas.
  • Pedido de Antecipação de Tutela: Em alguns casos, pode ser solicitado que o juiz antecipe a devolução dos valores antes da decisão final, se houver urgência comprovada, como necessidade de fundos para despesas essenciais.

As decisões judiciais em casos semelhantes tendem a variar conforme a apresentação de provas e a interpretação do juiz sobre a responsabilidade do banco e do consumidor. Em algumas decisões, os tribunais reconheceram a vulnerabilidade do consumidor e condenaram os bancos a restituir os valores, citando falhas na segurança das transações e na proteção ao cliente. O argumento baseia-se na responsabilidade objetiva dos bancos, prevista no CDC, que exige das instituições financeiras a segurança nas operações realizadas por seus sistemas.

Por outro lado, há decisões onde os tribunais entenderam que o consumidor tem responsabilidade pela guarda de suas credenciais bancárias e, em casos onde não ficou claramente comprovada a coação, os bancos foram isentos da obrigação de ressarcir os valores. Nestes casos, a análise do comportamento do consumidor e a ausência de provas robustas de coerção foram determinantes.

Dado o cenário variado de decisões, o sucesso de um processo pode depender da clareza e força das provas apresentadas. Se você conseguir demonstrar que foi efetivamente forçado a fornecer as informações, e que as transações ocorreram de maneira atípica, as chances de sucesso aumentam.

A recuperação dos valores perdidos via PIX após um roubo e coerção pode ser complexa, mas não é impossível. As chances de sucesso em um processo judicial contra o banco dependem da qualidade das provas que você apresentar e da capacidade de demonstrar que houve falha na segurança das operações por parte da instituição financeira. Os tribunais têm reconhecido, em algumas situações, a responsabilidade dos bancos, especialmente quando a vítima pode comprovar que não teve controle sobre as transações.

Porém, também existe o risco de o banco argumentar que a responsabilidade pela proteção das credenciais é exclusivamente do consumidor, o que pode levar à negativa do ressarcimento. Portanto, o melhor caminho é buscar orientação jurídica especializada para avaliar as chances específicas do seu caso e seguir as recomendações para fortalecer sua posição legal.

Por Alexandre Berthe Pinto
([email protected])


A reprodução do conteúdo total ou parcial é autorizada, desde que citada a fonte.
Importante: É sempre aconselhável ao interessado que procure orientação técnica específica com o profissional de sua confiança para análise do caso concreto. As informações aqui contidas, são genéricas e não dispensam a consulta com o advogado de confiança.

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