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Cai no golpe da falsa central, consigo recuperar o meu dinheiro?

Dúvida Jurídica

  • Pergunta: Cai no golpe da falsa central telefônica. Quem ligou tinha todos os meus dados bancários e foram realizadas várias transferências, totalmente fora do meu perfil. Como faço para recuperar o dinheiro? O banco falou que a culpa foi minha.

Breve Comentário sobre o Assunto

Infelizmente, golpes realizados por falsas centrais telefônicas têm se tornado cada vez mais comuns, com os golpistas utilizando técnicas sofisticadas para enganar as vítimas. Nesse tipo de golpe, os criminosos se passam por funcionários de instituições financeiras ou prestadoras de serviço, obtendo informações sensíveis das vítimas, como senhas e dados bancários. O impacto emocional e financeiro pode ser devastador, e muitas vezes o banco tenta eximir-se de qualquer responsabilidade, alegando que a culpa é da vítima.

No entanto, é fundamental compreender que as instituições financeiras têm a obrigação de garantir a segurança das transações realizadas por seus clientes. O artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) estabelece que o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços. Se as transferências realizadas estão fora do seu perfil habitual de uso, o banco deveria ter acionado mecanismos de segurança adicionais, como bloqueio temporário ou confirmação de identidade.

Além disso, decisões recentes da Justiça brasileira têm considerado que, mesmo que a vítima tenha sido enganada, a responsabilidade pela segurança dos dados e das operações financeiras é também do banco. A jurisprudência tem mostrado que, em muitos casos, o cliente consegue a devolução dos valores por falhas na segurança oferecida pela instituição financeira. Portanto, ainda que o banco alegue que a culpa é exclusivamente sua, há argumentos jurídicos sólidos para contestar essa posição e buscar a recuperação do dinheiro.

  • Documentação das Transações: É essencial reunir todas as provas das transferências indevidas, incluindo extratos bancários e registros de comunicação com o banco.
  • Registro de Ocorrência: Faça um boletim de ocorrência detalhado, descrevendo o golpe, as circunstâncias e os valores envolvidos.
  • Comunicação com o Banco: Guarde todas as interações com o banco, incluindo e-mails e protocolos de atendimento que possam comprovar a tentativa de resolução do problema.
  • Análise de Perfil: Se possível, obtenha um laudo técnico ou opinião de um perito que confirme que as operações realizadas são atípicas para o seu perfil de consumo.
  • Contestação Formal: Envie uma notificação extrajudicial ao banco, exigindo a devolução dos valores, baseando-se no artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor. Destaque que as transferências realizadas estão fora do seu perfil e que o banco falhou em assegurar a proteção adequada das suas informações.
  • Ação Judicial: Se a notificação não surtir efeito, considere mover uma ação judicial contra o banco. Nessa ação, é possível pleitear a restituição dos valores perdidos, além de eventuais danos morais. Apresente todas as provas coletadas e argumente com base na responsabilidade objetiva do banco.
  • Procon e Banco Central: Registre reclamações no Procon e no Banco Central, que podem mediar a situação e pressionar o banco a tomar medidas.

O Poder Judiciário tem se posicionado de formas diferentes em casos de golpes bancários. Em algumas situações, os tribunais reconhecem a responsabilidade do banco, especialmente quando as transações são atípicas e deveriam ter sido bloqueadas por medidas de segurança adicionais. Nesses casos, o consumidor tem conseguido reaver os valores roubados e até mesmo indenizações por danos morais.

No entanto, existem decisões onde a culpa é atribuída em parte ao consumidor, principalmente se ele forneceu informações sensíveis aos golpistas. O entendimento é que, em algumas situações, tanto a vítima quanto o banco falharam em seus respectivos deveres de cautela. Por isso, há casos em que o Judiciário determina a divisão da responsabilidade entre as partes, o que pode impactar na recuperação integral do valor.

Diante dessas possibilidades, é crucial analisar o caso com um profissional de confiança, que poderá orientar sobre as melhores estratégias e ajudar a entender todas as transações realizadas. Essa análise detalhada permitirá uma abordagem mais adequada para recuperar o prejuízo.

Se você foi vítima de um golpe da falsa central telefônica, é crucial agir rapidamente para tentar recuperar os valores perdidos. Apesar do banco tentar eximir-se da responsabilidade, a legislação e a jurisprudência estão do lado do consumidor, especialmente quando há indícios de falha na segurança dos serviços prestados pela instituição financeira. A documentação completa e um bom suporte jurídico são fundamentais para fortalecer seu caso.

No entanto, lembre-se de que algumas decisões judiciais podem considerar que houve culpa por parte da vítima, ou até mesmo uma responsabilidade compartilhada entre o banco e o cliente. Por isso, é fundamental analisar o caso detalhadamente com um advogado especializado, que poderá orientar sobre as melhores estratégias para recuperar o dinheiro.

Por Alexandre Berthe Pinto
([email protected])


A reprodução do conteúdo total ou parcial é autorizada, desde que citada a fonte.
Importante: É sempre aconselhável ao interessado que procure orientação técnica específica com o profissional de sua confiança para análise do caso concreto. As informações aqui contidas, são genéricas e não dispensam a consulta com o advogado de confiança.

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